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Território

Serra de Arga

Palavras-chave

PTCON0039

Localizada no Noroeste de Portugal, mais concretamente no distrito de Viana do Castelo, a Serra de Arga integra o alinhamento montanhoso paralelo à linha de costa na Região Norte de Portugal, constituindo no seu conjunto a “barreira de condensação” que determina uma transformação gradual do carácter atlântico das paisagens na área do Minho. Com uma altitude máxima de 825 metros, a Serra de Arga surge como o primeiro grande obstáculo interior aos ventos carregados de humidade provenientes do Atlântico.

Localizada no Noroeste de Portugal, mais concretamente no distrito de Viana do Castelo, a Serra de Arga integra o alinhamento montanhoso paralelo à linha de costa na Região Norte de Portugal, constituindo no seu conjunto a “barreira de condensação” que determina uma transformação gradual do carácter atlântico das paisagens na área do Minho, reflectindo a transição climática resultante da alteração do predomínio da influência marítima para a influência continental.

A Serra de Arga alicerça-se sobre o Maciço Hespérico, sendo a orogenia alpina responsável pela sua elevação, através do rejogo dos alinhamentos de falhas hercínicas, que definem os limites setentrional e meridional. Verifica-se igualmente uma vincada expressão morfológica dos alinhamentos de falhas de direção NW-SE, que traçam a delimitação oriental e ocidental da Serra. É plausível a continuidade da movimentação durante o Quaternário, por rejogo neotectónico da rede pré-existente de falhas e fraturas, o que, para além da resistência mecânica dos granitos, contribui para explicar a conservação do vigoroso relevo da Serra de Arga.

O núcleo central da Serra de Arga caracteriza-se pelo modelado granítico. A superfície culminante da serra, situada entre os 700 e os 800 metros de altitude, apresenta um aplanamento perfeito, onde dominam afloramentos de rocha nua e turfeiras. A plataforma culminante é circundada por vertentes declivosas, correspondentes, frequentemente, a escarpas de falha. Os declives são suavizados à cota dos 500/400 metros por uma sucessão de diversas rechãs onde se situam os principais aglomerados serranos e se desenvolve a área agrícola associada, testemunhando a importância das características morfoestruturais para o modelo de povoamento rural.

A observação da diversidade do substrato geológico da Serra de Arga é de grande relevância para a compreensão da sua paisagem, influenciando a fertilidade dos solos, no que respeita ao seu potencial produtivo a nível agrícola e à sua aptidão para o desenvolvimento da vegetação espontânea. De facto, as características edáficas da Serra de Arga expressam a influência determinante da conjugação das suas propriedades litológicas e climáticas. A Serra de Arga apresenta quantitativos pluviosos excepcionais, reflectindo quer o efeito marítimo, devido à proximidade do Atlântico, quer as implicações da orografia sobre o comportamento dos elementos climáticos. Face aos elevados valores médios de precipitação verificados entre os meses de Outubro a Abril, os solos desenvolvidos sobre rochas granitóides e xistentas apresentam características diferenciadas, condicionadas pelas suas propriedades litológicas, a nível da composição mineralógica, do grau de alteração e da capacidade hidro-geológica da rocha-mãe.

O núcleo central da Serra de Arga caracteriza-se essencialmente pelo modelado granítico. Como já mencionado, a superfície culminante da serra, situada entre os 700 e os 800 metros de altitude, apresenta-se aplanada, predominando nesta a rocha nu e as turfeiras. Indícios geomorfológicos, tais como a existência de micro-depressões internas, por vezes coincidentes com pequenos alvéolos, permitem deduzir que esta área, ainda na actualidade mal drenada, terá possuído pequenos nichos de nivação tipicamente periglaciares, da fase final do Würm, ou mesmo durante o tardiglaciar.

Esta plataforma culminante é circundada por vertentes declivosas, marcadas pela tectónica, que se desenvolvem genericamente entre os 700 e os 500 metros de altitude, onde afloram blocos graníticos in situ e blocos deslocados resultantes de processos de meteorização pelo frio e erosão hídrica. Ainda que possuam solos incipientes de reduzida espessura, verifica-se nestas vertentes graníticas a existência de vegetação sub-arbustiva mais exigente em termos de disponibilidade hídrica, em virtude da abundância de água ao nível dos canais de drenagem sub-superficial, disponibilizada pelos mantos de alteração e depósitos graníticos. 

As vertentes de declives mais elevados são suavizadas à cota dos 500 – 550 metros por um nível de rechãs tectónicas onde se situam os principais aglomerados rurais deste sector da serra, designadamente os diversos lugares das freguesias de Arga de Baixo e Arga de Cima, bem como a povoação de Cerquido. Em resultado da maior vulnerabilidade do granito à erosão hídrica, os cursos de água entalhados em vertentes graníticas desfrutam de uma maior disponibilidade de material para transportar, favorecendo assim a deposição de sedimentos fluviais nas áreas de menor declive situadas a jusante e beneficiando, em última análise, a fertilidade dos solos.

Deste modo, verifica-se nas rechãs graníticas o surgimento espontâneo de matas ou pequenos bosques de carvalho e azevinho que crescem na proximidade dos cursos de água. É nestas rechãs que se desenvolve maioritariamente a área agrícola que assegurava a subsistência das povoações serranas. Em muitos casos, os terrenos cultivados das rechãs expandem-se na direcção das áreas mais declivosas, através da tradicional estrutura de socalcos suportados por muros de pedra. Por outro lado, os solos férteis surgem também associados às áreas de contacto entre xisto e granito. Daqui se depreende que a vasta maioria do solo arável situado nas vertentes da Serra de Arga se encontra directa ou indirectamente relacionado com a erosão do granito, dado que o clima de influência atlântica não apresenta amplitudes térmicas capazes de promover uma meteorização do xisto que potencie a pedogénese, não originando a formação de solos profundos e férteis. Sublinhe-se que mesmo nas depressões agricultadas localizadas nas áreas de xisto a fertilidade dos solos dever-se-á aos depósitos aluvionares, constituídos por materiais resultantes da meteorização das rochas situadas nas vertentes a montante, seja do granito, seja do xisto em altitudes elevadas.

As vertentes em xisto de declives moderados possuem solos pobres, ocupados predominantemente por vegetação sub-arbustiva esclerófita, observando-se grande diversidade de plantas espinhosas adaptadas à secura. Já nas rechãs tectónicas, a presença do xisto permite o surgimento do sobreiro, espécie claramente mediterrânica, igualmente adaptada à reduzida disponibilidade de água durante o período estival.

 A floresta de resinosas corresponde a mais de 1/4 da área total, em resultado do cultivo intensivo de pinhais, seja sob a forma de povoamentos puros ou mistos. Constata-se que o perímetro florestal, que circunda parcialmente o maciço granítico da Serra de Arga abaixo da cota dos 400 metros de altitude, encontra-se maioritariamente colonizado por pinheiro (Pinus pinaster) e eucalipto (Eucaliptus globulus), começando a ser invadido por espécies exóticas do género Acacia sp., em consequência dos fogos florestais. As florestas de folhosas apresentam uma expressão residual. Na verdade, os carvalhais galaico-portugueses praticamente desapareceram, subsistindo apenas pequenos bosquetes na proximidade das áreas agricultadas e linhas de água.

 A nível agrícola, evidencia-se a expressão territorial das culturas anuais associadas às culturas permanentes, localizada entre os 400 / 300m de altitude e a cota dos 200m/100 m, sendo esta faixa variável em função das diferentes vertentes serranas. De um modo genérico, este uso do solo associado à agricultura não especializada encontra-se difundido nas encostas situadas entre o maciço granítico central e as margens fluviais que delimitam o bloco montanhoso da Serra de Arga.

No nível altitudinal compreendido entre os 550 e os 400 metros, correspondendo, grosso modo, à área de implementação dos principais aglomerados serranos, designadamente as três Argas, dominam as culturas anuais, os sistemas agro-pecuários complexos e os territórios agro-florestais. Respeitam, portanto, ao espaço de fixação das comunidades agrícolas de montanha, onde sobressaem os prados de feno pobres de baixa altitude e pequenos bosquetes de carvalhais galaico-portugueses. Ressalve-se que o abandono das práticas agrícolas tradicionais constitui uma ameaça à preservação dos prados de feno.

As culturas anuais de regadio, concentradas essencialmente no vale do rio Âncora e na veiga do rio Lima, apresentam uma área claramente superior às culturas anuais de sequeiro, presentes essencialmente nos solos aráveis das rechãs tectónicas de meia-encosta. No maciço montanhoso da Serra de Arga predomina a pastorícia extensiva em terrenos baldios, sobretudo de gado bovino e equino, com recurso a espécies autóctones, realizando-se também o pastoreio de gado caprino e ovino. No vale do Âncora, coexistindo com a tradicional policultura de autossubsistência, individualiza-se a especialização em bovinos de leite e hortofloricultura. Na veiga do rio Lima, a cultura do milho forrageiro é hegemónica, possibilitando, no entanto, a produção herbácea para forragem durante os meses de Inverno.

 

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