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Pontos de Interesse

Geossítio do Alcantilado de Montedor - Monumento Natural Local

Classificado como Monumento Natural Local no ano de 2016, o Geossítio do Alcantilado de Montedor agrega diversos interesses geomorfológicos preservados.
Os eventos geológicos e dinâmicas morfogénicas que conduziram à formação da colina de Montedor são especialmente interessantes no respeita à compreensão da instalação dos maciços graníticos que formam os sistemas montanhosos mais próximos da linha de costa, dos processos de metamorfismo de contacto que produziram as rochas metamórficas que afloram nas nossas praias, bem como dos movimentos técnicos que elevaram estes revelos litorais.

O alcantilado de Montedor constitui uma interrupção da plataforma litoral, geologicamente explicada pelo extravasamento para oeste, na direção do oceano atual, de uma lâmina de magma a partir do corpo principal do Plutonito de Bouça de Frade. Esta massa granítica forma, em conjunto com a dos plutonitos de Sta. Luzia e Afife, o maciço de Viana do Castelo-Caminha (Pamplona et al, 2006). O magma peraluminoso que originou este maciço tem origem na fusão crustal da litosfera dos supercontinentes Laurentia e Gondwana, que colidiram entre o Devónico e o Carbónico inferior (era paleozóica), e que terá resultado no fecho do oceano primitivo Rheic (Nance et al., 2012). Os volumes de magma gerados na colisão migraram entre os sedimentos do Rheic, metamorfizando-os (a mais de 5 km de profundidade) no complexo xisto-grauváquico, datado do Câmbrico inferior e em quartzitos e em xistos do Ordovícico Inferior.

A combinação da erosão das rochas do Rheic, que rodeavam as câmaras magmáticas consolidadas (plutonitos), com os processos de levantamento a que o território esteve sujeito desde o final da era mesozóica (orogenia alpina), revelaram à superfície as profundezas paleozóicas deste território. Os efeitos do aquecimento e da conquista de espaço dos plutonitos sobre as rochas do Rheic, e a geometria de colisão dos supercontinentes paleozóicos (colisão oblíqua e diacrónica - fases de deformação varisca - D1, D2 e D3) podem ser interpretados em aspetos geológicos de grande interesse e beleza, como os carreamentos, os dobramentos ou as paragéneses mineralógicas, que hoje podemos contemplar, por exemplo, em Montedor.

São, portanto, os materiais e estruturas da herança paleozóica que controlam a geologia e geomorfologia quaternária, por interação com os processos de geodinâmica externa como os costeiros ou os decorrentes da evolução climática.

Neste contexto e numa análise a grande escala, a existência de plataformas moldadas no granito exumado, permite-nos conhecer a posição altimétrica de 5 níveis de praias antigas (plataformas costeiras) conservados acima da praia atual (<1,8 m): Plataforma I (~18 m), Plataforma II (~13 m), Plataforma III (~8 m), Plataforma IV (4,5-5,5 m) e Plataforma V (2,0-3,5 m) (valores n.m.m.). Algumas destas plataformas ainda conservam restos de atividade biológica como os alvéolos de ouriço-do-mar (icnofósseis) e outros indícios da dinâmica de praia, como as sapas ou os campos dunares fossilizados.

Noutras localizações, onde o maciço de Viana do Castelo se coloca à margem e deixa desenvolver a plataforma litoral, as plataformas costeiras permanecem ocultas sob os sedimentos areno-lodosos que lhe dão forma aplanada.

Este monumento é também especial para percebermos como evoluem e são desmanteladas as vertentes, processo registado nas geoformas residuais como os tafoni, as pias e exutórios, as caneluras, a pseudo-estratificação, os pedúnculos, os pavimentos ondulados e a exfoliação.