Voltar

Pontos de Interesse

Construções tradicionais de apoio à pesca (Paçô)

A pesca marítima foi uma atividade importante em todos os litorais abrigados do Entre-Douro-e-Minho, documentada desde a Idade Média. As inquirições afonsinas de 1258 dão-nos conta da relevância do pagamento de foros em pescado, seja resultante de pesca em alto mar ou da captura de peixe em camboas, nas paróquias de Santa Maria de Darque, Castelo do Neiva e Átrio (Viana). As camboas, que pontuam o litoral vianense em grande número, são descritas por Carvalho da Costa (1706, p. 195) como “… uns lagos que se fazem com paredes portas para o mar; abrem-se quando a maré cresce, com que lhes entra a água e o peixe que nela vem; cerram-se em preamar, e em maré vazia fica nelas o peixe em seco”. O Foral outorgado a Viana da Foz do Lima por D. Afonso III, em 18 de junho de 1258, relata a existência da atividade piscatória em períodos anteriores à própria nacionalidade e estabelece os impostos sobre o peixe desembarcado na vila.

As colónias piscatórias principiam por se fixar em locais abrigados do litoral, onde encontravam melhor defesa da pirataria normanda e sarracena, e aí acabaram por se enraizar, povoando a linha de costa e promovendo o cultivo de cereais, preferencialmente milho ou centeio, os cereais de alimentação popular (Alberto, S., 1923). 

Em Carreço, desde o século XVIII, as camboas adquirem importância na atividade piscatória. Constituíam então um bem imobiliário valioso, sujeito ao pagamento de impostos e disputado em heranças, raramente sendo vendido. Na década de quarenta do século XX as camboas são demolidas na sua quase totalidade, passando o seu uso a ser considerado ilegal. Deste legado cultural e patrimonial da pesca tradicional, restam apenas vestígios parcelares das construções de outrora e numerosos topónimos.

Para além da pesca em mar-alto ou recorrendo à construção de camboas, outras técnicas de pesca artesanal encontram-se documentadas no litoral de Carreço, como por exemplo, a captura do polvo nos rochedos emersos na baixa-mar, ou do congro e do robalo a partir das escarpas. 

Descrições da segunda metade do século XX narram que “… os polvos eram caçados com auxílio do bicheiro, gancho de ferro fixo na ponta de uma vara. Nas fragas também em Carreço se pescava o Congro com auxilio da torta, aparelho formado por uma vara com um pedaço de arame grosso numa das extremidades dobrado em ângulo quase recto e donde pendia o anzol do congro. Com este instrumento se pescava sem necessidade de entrar na água” (Abreu, A., 1987, p. 38; Neves, L. Q., 1972, p. 36, 49, 134, 147).

Acrescentam que também “…se pescava o robalo com varal e amostra. Fazia-se o varejo do alto de um rochedo ou de bordo dum barco, lançando ‘linha’ (que era de arame zincado), de modo que anzol e amostra deslizassem quase à tona de água” (Abreu, A., 1987, p. 38).

A relevância da pesca para as comunidades agro-marítimas, que persistiu até ao último quartel do século XX, traduzida pela existência de construções na praia de Afife, Paçô e Lumiar, usadas para guarda dos aprestos e apoio à manutenção das embarcações tradicionais, constituem um testemunho da importância histórica desta atividade para estas populações.